John Bella - Membro Correspondente da ATL

 

PREFÁCIO

A emoção de falar sobre John Bella e sua obra, não só me envaidece, mas supera a felicidade de ser por ele escolhida, depois da nossa apresentação da Antologia Comemorativa do V Encontro de Poetas de Língua Portuguesa, “Somos um só Verso” Angola, Setembro de 2018. País dos meus sonhos imaginários. Como afrodescendente brasileira, com trabalho neste perfil infanto-juvenil apresentado na Cidade do Cabo- África do Sul. “Mariiinha um Amor de Menina”. Sou-lhe grata pela honra de apreciar e prefaciar este livro, que tão magicamente se apresenta ao leitor, cheio de subtilezas que marcam uma longa trajectória na carreira do autor, dedicada ao cenário poético e literário, premiado nacional e internacionalmente.

Realmente uma responsabilidade e seriedade incomuns para actores/autores ???e escritores que se conheciam naquele momento histórico das nossas vidas, mas com incríveis afinidades nos nossos ofícios: Escrever as nossas “escrevivências” - da nossa amiga irmã Conceição Evaristo. São muitos os sentimentos que me afloram ao apresentar esta obra do escritor John Bella, nome literário deste poeta angolano de Luanda — Jorge Marques Bela. Sociólogo e membro da União dos Escritores Angolanos-UEA, cujo veio literário o conduziu na magia dos Contos Infantis.

A textura dos contos africanos e principalmente dos infantis têm como simbologia a mágica do “mais velho”, Senhor de todas as coisas e detentor dos saberes que são transmitidos de geração em geração: fascinantes!

Os mestres contadores de estórias valiam-se ou reportavam-se a eles para ensinar vários assuntos sobre religião, história, costumes, valores que traziam sempre um ensinamento, energia e capacidade de transformar o mundo.

Nesse aspecto da narrativa de John Bella, caríssimo leitor, ele transporta-nos para aquela questão: Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Quem somos nós? Para aonde vamos? São perguntas e respostas a que o nosso autor vai imprimindo a sua marca no seu fazer poético-literário e oferecendo ao leitor, uma gama de possibilidades que vão surgindo, na medida em que a força da oralidade do texto se entrecruza no alinhamento das suas questões. Há uma duplicidade de linguagem poética e prosaica que nos põe perante a inserção do que é espacial e ao mesmo tempo, temporal. Pois, afinal o imaginário infantil exige respostas claras e objetivas.

As crianças trabalham com o concreto... Quem nasceu primeiro? O ovo ou galinha?

Neste contexto, o autor introduz magistralmente na narrativa a terceira pessoa, O Galo.... personagem fantasticamente responsável por dar conta desta magia de contar e se apresentar na estrutura do conto, principalmente o africano que na figura dos griôs tomam forma humanas e povoam a nossa ancestralidade.

Dando vida e corpo às estórias orais que embalaram as nossas gerações, edificando as nossas tradições culturais.

A riqueza étnica é impressionante e responsável por uma herança cultural e altruísta, talvez uma das maiores riquezas das estórias de vidas, contos e valores organizados para contribuir no ambiente escolar e familiar, dando conta do saber ouvir e falar, escutar e ler, destacando o fundamental exercício da cidadania da actual sociedade brasileira e africana, coirmãs em suas culturas e saberes.

Na criação dos elementos naturais, os personagens são introduzidos na narrativa de forma simples e eficaz. Suku Iyange — o criador refere-se aos animais com importância genial. “as girafas iam a caminho do rio para beber água”

A subjectividade do texto confunde-se com a sua objectividade na criação do mundo. São etapas distintas, mas coloridas por interrogações infinitas I???? finitas — dar respostas...

Os pescadores da ilha de Luanda gostavam de lançar a rede ao mar para pescar. É neste contexto que surgem as pessoas. A oralidade da obra de John Bella concretiza-se nas referências ao mundo exterior, caracterizando os personagens de forma viva, ilustrativa nas cores e formatos, trazendo colorido, à vivência mágica dos africanos. São personagens- vidas! Valorizando a sonoridade das palavras como a poesia feita para crianças, pela leveza do tratamento, pelo ritmo e pelo humor.

Portanto, caríssimo leitor, assim como é importante cada dia mais leitura, também a relevância dos nossos ancestrais é importante. O livro infantil de John Bella é um indicador para definirmos o que vem primeiro, situando-nos no espaço e tempo, tão difuso na era da globalização.

 

Lúcia Mattos-Especializada em Literatura Infantil

Pós-Graduada em Língua portuguesa e Literatura Brasileira