No Acalento da noite
Nascera o sonho triste,
Quando o galo lá no terreiro,
Pendendo por sobre a manhã em riste,
Saudava o fim da claridade.
Eram trevas cercando o berço,
Era a lua seminua,
Era a velha rezando o terço,
E o vento revolvendo a rua,
Gemendo preces, levantando pó,
E do lado do pequeno leito,
Com o aço em pleno peito,
Estava a mãe, plangente e só.
Ela veio já jovem,
Com rósea face em sorriso,
Com frágil corpo em fantasia,
Implorando um impossível dia.
Eram trevas cercando o berço,
Cercando a vida, o mundo,
Adorável reclusa da noite,
Fantasma que me arrebatou.
Nascida de uma dormida triste,
Numa dessas noites em que nada existe,
Morreu numa manhã de fé,
Quando o sino anunciava a missa,
E minha avó chamou-me para o café.