Biografia da Acadêmica Maria Morgado de Abreu
A taubateana, Maria Morgado de Abreu, foi uma das mulheres mais fascinantes que conheci. O seu fascínio estava na beleza, na inteligência e no espírito empreendedor. Admirava a sutileza e a competência com que conduzia as suas pesquisas, ensinava os seus alunos e recebia os seus amigos. Aposto que muita gente, assim como eu, saboreou um café com sequilhos, na sala da sua casa, na Praça Santa Therezinha. Que prosa deliciosa! D. Maria Morgado estava sempre disposta a receber aqueles que, como ela, amavam Taubaté e a sua gente.
Casada com o Coronel da Polícia Militar José de Abreu, teve os filhos Antonio Luiz, José Henrique, Luiz Fernando e Maria Regina. Mãe, esposa e professora dedicada, em entrevista ao Jornal “A Tribuna” de 1976 disse que os seus principais interesses eram: “Deus, o ser humano em geral. A minha família, em particular, com todas as alegrias e preocupações que dela resultam. O aluno que sempre será parte dos mais importantes anos da minha vida”.
Formada pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Paulo (USP). Lá tornou-se discípula e parceira do geógrafo francês Pierre Monbaing, da renomada Sorbonne. Mestre Monbaing, numa atividade pioneira, exigia e levava os seus alunos à pesquisa de campo. A prática da investigação, da conexão da História com a Geografia e a psicologia dos povos foram conceitos introduzidos pelo mestre e que muito influenciaram a pesquisadora Maria Morgado.
Sua formação passou por vários cursos de extensão, como: Didática, Áudio Visual e Escola Nova – USP; História da Arte; Comunicação Pedagógica; Folclore; Aprendizagem e Técnicas de Ensino – Faculdade de Filosofia de Taubaté e outros.
Como Professora lecionou, no Colégio Comercial de Taubaté, na Escola Normal Municipal, nos Colégios “Monteiro Lobato”, “Prof. José Ezequiel de Souza” e outros. Com sabedoria, inovou o ensino da Geografia e da História. Ela levava seus alunos à pesquisa de campo, método que os auxiliava na compreensão dos conceitos discutidos em sala de aula. Admirada e respeitada por eles, a mestra conquistava todos com o seu dinamismo e seu conhecimento.
A rica história de Taubaté e do Vale do Paraíba foi, durante toda a sua vida, objeto de estudos. Suas pesquisas foram facilitadas pelo conhecimento da língua tupi e do francês. Seu olhar atento para as tradições, para os modos e para os costumes do povo valeparaibano rendeu inúmeras publicações em jornais, em revistas e em apostilas. A cultura popular foi por ela valorizada e reconhecida. Ah! Com que propriedade falava do nosso folclore, da nossa culinária, dos “saberes e fazeres do caipira”.
O Mercado Municipal, um dos seus lugares favoritos, recebeu várias exposições de sua autoria. As exposições tinham como objetivo a difusão e a preservação da identidade do nosso povo. A relação com a história e a cultura regional levaram-na a desenvolver, na Faculdade de Filosofia de Taubaté, o curso de “História de Taubaté e do Vale do Paraíba”, do qual foi Professora.
Historiadora determinada, organizou, no Museu Histórico de Taubaté, a exposição permanente “Taubaté na História do Brasil”, descrevendo de forma significativa a importante trajetória da cidade na sociedade e na economia nacional. A exposição, até os dias de hoje, é muito visitada por historiadores, escolares e turistas.
Admiradora do escritor Monteiro Lobato, pesquisou e escreveu muito sobre o autor. Assim como ele, valorizava a autenticidade do homem e da cultura brasileira.
Autora das obras: “Aspectos do Folclore de Taubaté”; “Taubaté de Núcleo Irradiador do Bandeirismo a Centro Industrial e Universitário do Vale do Paraíba”; “História de Taubaté através de Textos”,”Culinária Tradicional do Vale do Paraíba”, “Aspectos Geográficos do Vale do Paraíba e Município de Taubaté” entre outras.
Em 1998, recebeu da UNESCO o título de “Defensora do Patrimônio da Cultura do Vale do Paraíba”.No ano 2000, foi uma das fundadoras da Academia Taubateana de Letras, ocupando a cadeira nº 4, tendo como patrono Gentil Eugênio de Camargo Leite.
Maria Morgado, com os seus feitos notáveis e títulos importantes, destacava-se pela modéstia e pela simplicidade. Sua filha Maria Regina disse que “o bonito nela era o prazer e a curiosidade de ver e descobrir as coisas”. A intelectual deixou sua marca, no Vale do Paraíba, e inspirou a criação, em sua homenagem, do “Concurso Literário Interno” da Academia Taubateana de Letras.
Foi eleita, Membro Titular pela Academia Taubateana de Letras, ATL, em 2000, para ocupar a cadeira nº 04, Patrono: Gentil Eugênio de Camargo Leite. Faleceu, em 2008.
Conceição Fenille Molinaro
Cadeira nº35 da Academia Taubateana de Letras